sábado, 4 de abril de 2009

SOBRE RELACIONAMENTOS - Parte III


A CAIXA DE PANDORA



O escritor Paulo Coelho nos apresenta uma metáfora muito interessante: Ele diz que a distância que separa os trilhos dos trens foi decidida pelos romanos, que o fizeram em função dos carros de guerra serem conduzidos por dois cavalos que, naquela época, ocupavam esse espaço. Depois os construtores mantiveram (congelaram) esse padrão, por acomodação, superstição ou qualquer outra coisa parecida. Hoje, esse padrão é usado nos moderníssimos trens de alta velocidade.
Segundo ele, essa mesma regra é também aplicada aos casamentos. Em um dado momento da história alguém apareceu e disse que quando duas pessoas se casam elas devem permanecer congeladas pelo resto da vida. Devem caminhar, uma ao lado da outra, como dois trilhos, obedecendo a esse padrão. Qualquer coisa diferente disso contraria as regras que dizem: sejam sensatos, pensem no futuro, nos filhos; vocês não podem mais mudar, devem ser como os trilhos que mantêm a mesma distância, quer na estação de saída, no meio do caminho ou na estação de destino. Não deixem o amor mudar; não o deixem crescer no começo, nem diminuir no meio...
A maioria das pessoas acha que a promessa de “ser feliz para sempre” precisa ser mantida, mesmo que à custa da infelicidade cotidiana.
E, ao se instalar essa condição também se instala uma das catástrofes do ser humano: o medo de perder aquilo que não tem mais...
Duas pessoas se conhecem, começam um relacionamento afetivo prazeroso e gratificante. Com o passar do tempo esse relacionamento vai se modificando e deixa de ser gratificante, passando a ser desagradável e até nocivo. Essas pessoas não saem desse relacionamento porque ficam na esperança de que ele volte a ser o que era. Nada fazem para mudar esse estado de coisas; ficam somente na esperança de que elas mudem. Neste sentido, a esperança é o último mal da Caixa de Pandora...
Conta um mito grego que o titã Prometeu roubou o fogo do conhecimento dos deuses e deu aos homens. Zeus, o pai dos deuses, resolveu se vingar de Prometeu, e enviou Pandora com uma caixa cheia de males, para presenteá-lo. Prometeu (que quer dizer “aquele que tem o conhecimento prévio”) tinha um irmão chamado Epimeteu (que quer dizer “aquele que tem o conhecimento tardio”). Prometeu alertou Epimeteu para não receber qualquer presente de Zeus, porém, quando Pandora chegou com a caixa Prometeu não estava em casa e Epimeteu não se lembrando do alerta recebeu a mesma e sua mulher a abriu, de lá saindo a fome, a miséria, doenças, guerra. Quando Prometeu chegou em casa e percebeu a situação, fechou a caixa, ficando dentro dela o último mal: a “esperança”.
Aqui, a esperança é um mal porque mantêm a pessoa paralisada, sem qualquer ação efetiva, ficando somente “esperando” que venha algo ou alguém para livrá-la da situação em que se encontra, ou que por uma espécie de mágica, tudo volte a ser como era antes.
Em obediência a esse padrão ninguém deve se perguntar: por que estou infeliz? Esta pergunta traz em si o vírus da destruição de tudo. Se perguntar isso, vai querer descobrir o que o faz feliz. Se o que o faz feliz é diferente daquilo que está vivendo, ou muda de vez, ou fica mais infeliz ainda.

No casamento as pessoas se acham no direito de tentar controlar o outro, e procuram estabelecer a relação a partir de:
Exigências, querendo mimetizar o outro (mimetizar = transformar-se em algo que não se é);
Necessidades (de bancá-las, protegê-las);
Colocar o parceiro à prova;
Explicações.
Nós passamos muito tempo dando explicações sobre coisas inexplicáveis.
Quando eu explico, o outro tem o poder (eu estou em Efeito); quando eu compartilho, o poder é meu (estou em Causa).
Se eu tenho que dar explicações para que você continue comigo, você não está comigo; você está com minhas explicações.

UNIVERSO MASCULINO X UNIVERSO FEMININO
Uma das dificuldades de se manter bons relacionamentos no casamento tem origem nessa questão, senão vejamos:
Inicialmente, vamos analisar os textos a seguir, e determinar o que está certo e o que está errado:
1 - “Os homens são bem insensíveis. Meu namorado nunca quer simplesmente ficar sentado, me olhar de frente e passar um tempo apenas conversando sobre o que pensamos e sentimos; nem mesmo quer saber o que aconteceu durante o dia. Quando estou chateada ou enfrentando algum problema sério, ele tende a minimizar e me diz como resolver, em lugar de tentar entender o que estou passando, sentindo...”

2 - “Por que as mulheres gostam de gastar tanto tempo em conversas, principalmente sobre os mesmos assuntos? Minha namorada gosta de escolher um assunto e estendê-lo ao máximo, falando sobre o mesmo o tempo todo. Parece mais interessada em gastar o tempo falando sobre o problema do que tentar resolvê-lo...”

Bem, não é aplicável, nos textos acima, os conceitos de certo ou errado. As meninas constroem e mantêm amizades trocando segredos. De forma semelhante, as mulheres vêem as conversas como a base da amizade. Então, uma mulher espera que seu marido seja uma versão nova e mais profunda de sua melhor amiga. O importante não são os assuntos individuais discutidos, mas o conceito de intimidade, uma vida compartilhada, que surge quando as pessoas expressam seus pensamentos, sentimentos e impressões.
A ligação entre os meninos pode ser tão intensa quanto a das meninas, mas não se baseia tanto no diálogo e, sim, nas ações realizadas em conjunto.
Já que não consideram o diálogo o elemento que consolida uma relação, os homens não sabem que tipo de conversa as mulheres desejam e não sentem falta quando ela não existe. Isto pode desempenhar um papel muito importante na relação homem / mulher e, provavelmente, se constitui no grande entrave na comunicação entre os dois, transformando-se na principal queixa expressa pelas mulheres (de que os homens não as escutam).
Para a grande maioria dos homens não é realmente importante falar sobre o problema; o importante é agir no sentido de resolvê-lo...
Como resolver esse dilema? “O caminho do meio”: nem tanto para Vênus, nem tanto para Marte...



Um comentário:

  1. Vale ressaltar que a abordagem acima refere-se às pessoas de mum modo geral, sem discutir as exceções.

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