domingo, 22 de março de 2009

SOBRE RELACIONAMENTOS - Parte II









PERSEGUIDOR
:
Quando a relação está fora do Triângulo da Comunicação, ela está no Triângulo Dramático:
Cada vez que um dos parceiros assumir, na relação, este nefasto papel, seu objetivo não será resolver um problema, menos ainda ajudar o outro, nem buscar que ele melhore e não volte a cometer erros. Seu objetivo real será atemorizar, criticar, desmoralizar, por o outro pra baixo, deixá-lo em efeito o máximo possível.
Então, sua insuportável conduta de Perseguidor o levará a ser (ou pelo menos a querer ser) sempre quem tem razão, buscando controlar o outro com o olhar, a manipular pelo medo, logrando assim, com soberano esforço, ser um temido tirano familiar, que sempre estará só, tenso e amargurado.
Esta é uma tática para ocultar sua própria Criança, frágil, temerosa e fundamentalmente necessitada de aceitação e proteção – realidade em sua infância e fantasia no momento atual.
Este papel também pode ser exercido sem necessidade de gritos, sermões, agressões ou ameaças. A pessoa pode ser do tipo sutil, elegante, daqueles que fazem sentir sua critica de forma constante, encoberta, silenciosa. Se é assim, pertence à casta dos piores, já que é possível que até se vanglorie de jamais ter batido nos filhos, mas tendo conseguido quebrar-lhes a autonomia, uma vez que eles o sentem como um juiz silencioso e implacável, do qual não podem se aproximar sem que se sintam no banco dos réus.
SALVADOR:
Existem algumas pessoas maravilhosas que pululam pelo mundo e que, frente a qualquer situação que atravesse outra pessoa, correm para ajudar, para salvar. É provável que essas pessoas não tenham a menor consciência do dano que ocasionam com tão inadequada e ingênua conduta. É claro que esse problema é agravado porque a sociedade está sempre disposta a justificar ou glorificar esta estúpida compulsão de ajudar.
Porem, é bom saber que, quando um dos parceiros atua nesse papel e qualquer que seja a justificativa que usa para realimentar esta sua forma de relacionar-se com os outros, o único objetivo que o move será criar dependência, insegurança, impotência, demonstrar que é imprescindível, não permitindo que o outro cresça. E, sobretudo, tentará transferir para essa mesma pessoa que diz querer ajudar, seus próprios medos ou problemas não resolvidos.
Alem disso, quando, por qualquer coisa, seu papel de Salvador está em perigo, a pessoa apela para a mais formidável de suas armas, que é a culpa, alegando o muito que tem se sacrificado pelos outros, o muito que tem dado sem nada pedir (tempo, sexo, afeto, companhia, dinheiro, etc).
A “salvação” ocorre quando uma pessoa ajuda outra sem que ela peça essa ajuda (a dificuldade real da pessoa pode ser a de pedir ajuda, e quando alguém a ajuda antes que ela peça, a está impedindo de transformar-se, de crescer, a está mantendo sob sua dependência). Ocorre também quando, em sua ajuda, a pessoa faz tudo pelo outro; pelo menos 50% o outro tem que fazer sem o que estará se transformando em uma falsa vítima, alimentando a sua dependência.
VÍTIMA:
A Vítima (Falsa Vítima, para distinguir de uma verdadeira, uma pessoa vitimada por um acidente, um assalto, etc.) está em ação quando um dos parceiros interage com o Perseguidor ou o Salvador do outro, e sua conduta será uma seqüência de obediência absoluta, segundo as pautas de permissões ou proibições que gravou quando em criança.
Ao atuar com a Vítima a pessoa sofrerá um implacável e constante temor de fracassar, e, isto o levará a fazer manipulações através da culpa e do suborno, e será vitimada por um sólido sentimento de frustração. As emoções de tristeza, depressão, confusão e ansiedade caracterizarão sua vida emocional, e, é claro, não guardarão relação adequada com a realidade externa (referir-se-ão à realidade interna e ao lá-e-então, quando era criança).

Na grande maioria dos casos, a relação entra no Triângulo Dramático porque existe um conflito e cada um acha que está certo e o outro errado. A partir do momento em que esta condição se instala, a relação passa a ser dramática e o problema maior é : não há interesse em resolver o problema; existe apenas a condição de que UM ESTÁ CERTO E O OUTRO ESTÁ ERRADO.
A partir desta situação, tudo o que acontecer com estas pessoas, cedo ou tarde, se transformará em sofrimento.

Quando se estabelece uma relação com base no Triângulo Dramático, chega um momento em que há um
Empastamento do Vínculo:
- Limitação do logro externo de carícias – os dois (casal) ficam tão misturados entre si que perdem carícias de fora (sociais, afetivas, ambientais) e, ao mesmo tempo, restringem as carícias para fora;
- Nada pode ser feito em separado – é como se fizessem uma espécie de integração compacta, sólida, que não lhes permite fazer algo em separado;
- Ficam mal ao estarem juntos e também quando estão separados – é uma pseudo-lealdade. Não podem ficar juntos bem, nem podem separar-se bem. É como se ficar juntos fizesse parte da relação, mas eles não querem ficar juntos;
- Medo de ficar só, abandonado – ambos começam a ter medo: ou de ficar só ou de ser abandonado;
- Aparece a fantasia de terceiros como ameaça – qualquer coisa ameaça: pode ser uma secretária, um amigo, um colega. Ainda que realmente não exista alguém, existe a suspeita.
- Preocupação paradoxal – a pessoa se preocupa porque quer se desquitar e ao mesmo tempo se preocupa se a outra é fiel ou não.

Depois que os seis pontos estão funcionando, surge o
Papel Social Limitado:
- Rompe com todos os vínculos – não querem ir mais a casa dos pais, sair com os amigos, ir às atividades sociais. O casal começa a fechar o círculo, a ficar cada vez mais ilhado, a cortar as relações com os demais;
- Não se relaciona com os demais – se vão a uma reunião ou festa, ficam juntos, um ao lado do outro, olhando a todos, sem se falarem e sem se separarem;
- Estrutura de espionagem – um verifica o cheiro do corpo do outro, a hora que sai e chega, quais os números de telefone que liga. O outro começa a dar sinais: vai ao cinema, chega mais tarde, etc. É o momento da interação por rebelião, vingança ou intimidação. Começa a haver uma luta para ver quem torce o braço de quem
Quando os três pontos estão funcionando, obviamente fica em pedaços o
Nível de Gratificação:
- Sexualidade – não há desejo, não há carinho, não há intimidade: dois estranhos dormindo juntos sem qualquer atração;
- Fragilidade (insegurança) extrema – brigam o tempo todo; acordam de madrugada para discutir “nada”;
- Hostilidade manifesta – indiferença, mau humor; crítica à comida, reclamação da camisa manchada;
- Condutas superprotetoras – ele pergunta se ela não quer fazer uma viagem, compras (se tem dinheiro investe alto para tranqüilizá-la). Ela poderá sugerir que ele saia com amigos (depois reclama por ter chegado tarde);
- Hostilidade franca e exacerbada – insultos, agressões, empurrões, violação sexual. Se o casal tem filhos e não resolve se separar, os filhos provavelmente sofrerão muito, terão muitos problemas futuros;
- O que é bom para um é ruim para o outro – filmes, livros, amigos novos;
- Qualquer mudança é vista como perigo ou ameaça – começam a ver como ameaça, agressão ou ato hostil as atividades de crescimento (mudanças) do outro.

Existe um pequeno problema que padece 70% dos casais, quer sejam recém casados ou tenham 30 anos de relação, que é o que chamamos TERCEIRO PARTIDO.
Quando duas pessoas estão constantemente brigando, nós podemos desconfiar que elas estão em efeito de uma terceira pessoa que se chama Terceiro Partido. O Terceiro Partido não é psicológico, é social: é alguém com nome, apelido, carteira de identidade, CPF, etc. É uma pessoa real que está atuando de tal maneira que faz com que as outras duas estejam constantemente em briga. O Terceiro Partido tem três características:
1 – está presente na relação;
2 – passa despercebido;
3 – atua com freqüência.
O Terceiro Partido gera um clima de desentendimento pleno. Quando ele fala, normalmente diz: “eu não quero que você mencione isto, mas...”.
O Terceiro Partido não é necessariamente uma pessoa agressiva, grosseira ou violenta. Às vezes é uma velhinha. Exemplo: o Terceiro Partido é uma avó. A neta fala com a avó sobre mãe; a avó fala para a mãe sobre a neta; a mãe briga com a neta.
O Terceiro Partido é uma mãe (ou cunhado), o marido A e a esposa B:
O 3o Partido fala para B sobre A; B fala para o 3o Partido sobre A; 3o Partido fala para A sobre B; B e A brigam.
Nestes casos, para que a relação volte a funcionar, é necessário que o casal identifique e retire o Terceiro Partido do meio.
Não é conveniente usar veneno, arma de fogo, arma branca ou empurrar do 10° andar.
Técnica para resolver a questão do Terceiro Partido:
1 - É necessário desmascarar o Terceiro Partido sem conflitos ou brigas;
2 – Se os dois (casal) percebem que existe um Terceiro Partido por trás de suas brigas e ambos estão dispostos a consolidar a relação, têm que se por de acordo e comunicar ao TP esse acordo;
3 – Se o Terceiro Partido tentar dar alguma explicação, não permitir e voltar a informar a decisão do casal;
4 – A palavra porque deve ser eliminada dessa conversa. Porque gera explicações, que gera brigas, etc. O casal não deve dar nem pedir explicações, deve apenas comunicar a sua decisão.
5 – Por último, a conversa acima não pode durar mais do que 5 minutos. Se ultrapassar esse tempo, vai virar jogo, que leva a discussões, brigas, etc.

Não é necessário brigar para TER RAZÃO, é necessário brigar para estar OK.
Quem não está disposto a lutar para viver bem merece viver mal.
Referências bibliográficas:
1 - Sandoval Barretto. Ecologia Humana nos Relacionamentos, Edotora Biblioteca 24x7, São Paulo, 2008;
2 – Juan José Tapia. Guia a la Okeidad, Editorial Okedad, Buenos Aires, 1982;
O Prazer de Ser, Editora Gente, São Paulo, 1993;
Viva bien... o Muérase! – Manual de Ecologia Humana, Editorial Okeidad, Buenos Aires, 1994.

3 comentários:

  1. Postando para manter contato, mas prometo que lerei os próximos textos, pois não tive tempo ainda de ler nenhum


    Abraço!

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  2. Parabéns Sandoval, o conteúdo dos seus artigos são valiosos para muitas pessoas que precisam se dar conta, de quanto tempo se perde com uma comunicação conflituosa.Continue distribuindo um pouco do seu potencial para partilha benéfica do necessário.
    A vida é curta e bela...
    ANA ROSA CASTRO LIMA

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  3. Agradeço, Ana Rosa, o seu comentário. Como ele veio de alguém que entende, e muito, do assunto, torna-se ainda mais gratificante para mim. Abração. Sandoval

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