quinta-feira, 19 de março de 2009

SOBRE RELACIONAMENTOS




As relações, para serem gratificantes, têm que estar sustentadas no Triângulo da Comunicação:








Afinidade
– é gostar de algumas coisas que o outro gosta; é sentir prazer em estar com o outro; é um fluxo que se move de dentro de uma pessoa em direção a outra.
É a habilidade (auto-permissão) para me aproximar ou me afastar da outra pessoa (dizer sim ou não) quando eu quiser. É um processo em movimento, e quando há movimento o aproximar-se ou afastar-se (sim ou não) não põe a relação em perigo.

Quando um quer e o outro não aceita e há conflito, é porque não há permissão para afastar-se, ou dizer não, ou ter autonomia interna. É porque a relação está deixando de ser fluida, de ser processo, movimento, energia, e está se tornando estrutura, massa. É porque um está querendo ser dono do outro.

Negamos a nossa capacidade de vivenciar a experiência quando discutimos, e normalmente saímos de uma discussão piores do que entramos.
A relação é o que está acontecendo agora, não o que aconteceu ontem ou no mês passado.
A minha experiência de você é a que estou tendo agora; a experiência anterior que eu tinha de você já não é mais válida.
È claro que o sim ou o não tem que ter coerência (bom senso), caso contrário gera a reatividade. Se eu vivo dizendo não, estou atuando reativamente na relação.

Um excessivo sim gera um constante não; um excessivo não gera um desesperado sim.

Intercâmbio – significa que existe uma troca de Fluxo de Saída (dar) e Fluxo de Entrada (receber): quando um está no Fluxo de Entrada (recebendo atenção, carinho, colo, sendo protegido, etc.), o outro deve estar no Fluxo de Saída (dando, protegendo, etc.).
Significa que existe real troca de posições (Fluxo de Entrada x Fluxo de Saída), para que a energia flua entre os dois, numa dinâmica de prazer e satisfação mútua.

Na relação, o DAR e o RECEBER têm que ser harmônicos.
Isaac e Sara, dois israelitas, se casaram e logo Sara ficou grávida. Como em Israel não havia condições de Isaac ganhar dinheiro para o sustento da família, ele resolveu ir para a Turquia trabalhar. Lá já trabalhavam parentes e conterrâneos seus por isso não foi difícil para ele conseguir um bom emprego.
Um ano depois de estar na Turquia, ele conseguiu economizar 100 mil dólares que, aproveitando a ida de Jacob, um conterrâneo, para Israel, ele resolveu enviar para Sara.

Quando falou com Jacob, ele concordou em levar o dinheiro desde que recebesse uma comissão, já que estaria arriscando a sua vida prestando esse serviço.
Isaac ofereceu 5% de comissão, que Jacob recusou, já que achava que merecia ganhar mais. Houve uma discussão relativamente longa sobre o assunto, até que Isaac, pegando uma folha de papel escreveu:

“Estou enviando para Sara 100 mil dólares por intermédio de Jacob, e autorizo este a entregar a Sara o que ele quiser. Ass. Isaac”.
Durante a viagem Jacob foi se questionando sobre o risco que estava correndo em levar aquele dinheiro para Sara, a ponto de não sair do camarote do navio em que viajava, por medo.
Ao fim da viagem, Jacob chegou a conclusão que tinha direito à 95 mil dólares (95% dos 100 mil dólares que Isaac havia enviado), e que Sara, que nenhum risco correra, tinha direito a 5 mil.

Quando entregou a quantia a Sara, ela se recusou a receber, dizendo que Isaac havia enviado 100 mil. Então Jacob mostrou o papel com a declaração de Isaac. Nova discussão aconteceu, até que eles foram ver um rabino muito sábio, que conheciam.

O rabino ouviu os dois, leu a declaração escrita por Isaac, depois perguntou a Jacob:

- Quanto é mesmo que você quer?
Jacob respondeu:

- 95 mil.

O rabino, então, concluiu:

- Está escrito aqui que você deve entregar a Sara o que você quiser; como você acaba de me dizer que quer 95 mil, é este valor que você deve entregar a Sara.
Você deve estar se perguntando o que esta estória tem a ver com relacionamentos. Numa relação à dois, o que cada parceiro quer do outro, é o que ele deve dar. Se quer muito carinho e atenção, deve dar muito carinho e atenção.

Por outro lado, cada um dos parceiros deve ficar atento ao que está recebendo do outro: se o outro está dando pouco, é sinal de que ele quer pouco, e pode estar recebendo demais...

Congruência - é quando eu posso ser autenticamente o que sou quando estou com você e vice-versa. Eu posso dizer o que sinto, o que penso, e atuar sem medo.
Não tenho que sustentar a relação ao preço de guardar sentimentos, deixar de fazer o que gosto, etc.

Muitos homens exigem que as mulheres abandonem certas ações para poder estar com eles; as mulheres fazem o mesmo. Para que possam estar juntos aceitam, mas, com o passar do tempo, não agüentam.

Onde há congruência não existe ocultamentos. Quando ocorre ocultamentos na relação? Quando o que eu penso ou sinto deveria ser conhecido pelo outro a fim de que ele saiba em que relação está, e eu oculto. Quando o que eu penso ou sinto interfere, de alguma maneira na relação, e eu oculto.

Se aconteceu algo comigo que não ameaça a relação, eu não necessito contar: não é ocultamento. Eu tenho direito à minha privacidade.
Quando algo deve ser dito na relação? Quando a pessoa crê firmemente que aquilo que for dito irá contribuir para a relação crescer. Não sendo esse o caso, será um Ato Hostil (ação que visa desqualificar o Sentir, o Ser, o Fazer ou o Ter da outra pessoa). Exemplo: “Fulano passou a festa toda me paquerando”; “tem uma gata lá no trabalho dando mole pra mim”.


SOBRE-ALCANÇAR – é pretender que o outro queira o que eu quero; que o outro me dê o que eu preciso; me dê o que eu espero. Sobre-alcançar é não permitir a liberdade do outro.

A técnica para alcançar sem sobre-alcançar tem quatro partes:

1 – toque e retire-se (diga o que pretende fazer ou peça o que quer, e dê tempo para o outro refletir);

2 – aqui e agora - algo em função do presente (evite ficar se queixando de coisas que acontecerem ou que o outro fez no passado);

3 – seja específico (diga claramente o que quer);

4 – na primeira pessoa - EU. Fale de si mesmo, dos seus sentimentos, dos seus desejos. Normalmente, o que as pessoas fazem é falar na 2ª ou 3ª pessoa, acusando o outro (Você fêz isso! Você fêz aquilo!...).

A chave é que seja um pedido e não uma reclamação de necessidade
.
Quando o SOBRE-ALCANÇAR se instala na relação, esta sai do Triângulo da Comunicação e entra no Triângulo Dramático.

Este será o tema da próxima postagem.

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